Termo francês para um processo poético que consiste no desalinhamento da estrutura métrica e sintáctica de uma composição, onde os versos se sucedem entre si sem pausas no final de cada um. É normalmente traduzido para português por encavalgamento, por tradução directa do espanhol encabalgamiento. O processo de continuação do sentido de um verso no verso seguinte produz versos corridos, característica de muitas composições da nossa lírica galego-portuguesa (não significando que seja dela exclusivo, pois desde a poesia homérica que o enjanbement pode ser identificado). Trata-se de uma alternativa ao paralelismo tradicional e podemos testemunhá-la em cantigas de atafinda (que conduzem ininteruptamente o pensamento “até à finda” do poema), como a célebre “Quer’ eu en maneira de proençal / fazer agora un cantar d’amor”. Embora largamente utilizado já pelos poetas renascentistas e maneiristas, só a partir de André Chénier (1764-1811) o processo voltou a ganhar simpatia entre os poetas. Os poetas românticos utilizam-no com alguma frequência, mas só a partir da poesia modernista o processo de encadeamento dos versos se vulgarizou. Hoje são raras as composições que ainda obedecem a um alinhamento rigoroso dos versos e da sintaxe do poema.
Carlos Ceia
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