(Chico César & Carlos Rennó)
era uma luz, um clarão,
um insight num blecaute.
éramos nós sem ação,
como quem vai a nocaute.
era uma revelação
e era também um segredo;
era sem explicação,
sem palavras e sem medo
era uma contemplação
como com lente que aumenta;
era o espaço em expansão
e o tempo em câmara lenta.
era tudo em comunhão
com o um e tudo à solta;
era uma outra visão
das coisas à nossa volta
e as coisas eram as coisas:
a folha, a flor e o grão,
o sol no azul e depois as
estrelas no preto vão.
e as coisas eram as coisas
com intensificação,
que as coisas eram as coisas
porém em ampliação
era como se as víssemos
entrando nelas então,
com sentidos agudíssimos
desvelando seu desvão,
indo por entre, por dentro,
aprendendo a apreensão
de tudo bem dês do centro,
do fundo, do coração.
era qual uma lição
del viejo brujo don juan;
uma complexa questão
sem nexo qual um koan;
um signo sem tradução
no plano léxico-semântico;
enigma, contradição
no nível de um campo quântico
era qual uma visão
de um milagre microscópico,
do infinito num botão,
e em ritmo caleidoscópico,
ciclos de aniquilação
e criação sucessiva,
átomos em mutação,
cósmica dança de shiva.
e as coisas ao nosso ver
davam no fundo a impressão
de ser de ser e não-ser
a sua composição;
como a onda tão etérea
e a partícula não tão
num ponto tal da matéria
tanto 'tão quanto não 'tão.
até que ponto resistem
a lógica e a razão,
já que nas coisas existem
coisas que existem e não?
o que dizer do indizível,
se é preciso precisão,
pra quem crê no que é incrível
não devanear em vão?
era uma vez num verão,
num dia claro de luz,
há muito tempo, um tempão,
ao som das ondas azuis.
e as coisas aquela vez
eram qual foram e são,
só que tínhamos os pés
um tanto fora do chão.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
0 comentários:
Postar um comentário