Crítica temática

A Crítica Temática na Actualidade

Werner Sollors


Nesta altura pode não ser uma das questões centrais da crítica temática perguntar o que é um tema mas, antes, como é que descobrimos um tema num texto? Quais são os problemas envolvidos na ideia de “ser acerca de alguma coisa”, quando afirmamos que um determinado texto é “acerca” de um tema? Bremond lembrava os leitores que “não existe ‘em-e-de-si-próprio’ no tema”, e chamava a atenção para a variedade de interesses cruzados, e muitas vezes inconscientes, que podem guiar a construção de um tema por exemplo estético, lógico, estatístico, genealógico, psicanalítico, estruturalista, nacionalista ou autobiográfico. Menachem Brinker defendia a ideia que uma afirmação pode ser absolutamente ou relativamente “acerca” de alguma coisa [...].

Pavel estabeleceu uma distinção entre um texto que força explicitamente os leitores a interessarem-se por um tema (o lesbianismo na obra de Balzac “A Rapariga de Olhos Dourados”), e um texto que precisa de um esforço especial (mesmo forçado) por parte do crítico para identificar um tema (Twelfth Night e o homoerotismo); Theodor Wolpers observou que na crítica ideológica “têm sido sugeridos temas ou posições ideológicas que só muito remotamente estão relacionados com os sentidos intrínsecos da obra estudada”. Como é que se chega a tais distinções? Para Pavel, a máxima berkeleyana da crítica temática não declarada é a seguinte: “Para um tema, ser identificado é ser”. Os censores podem participar neste jogo livre da estruturação temática - como aconteceu com aquele pobre bibliotecário de Alabama que queria fazer desaparecer da biblioteca o belo livro infantil The Rabbits’ Wedding (1958), de Garth Williams, porque o casamento da coelha branca com o coelho preto parecia tematizar, talvez mesmo advogar, o casamento inter-racial - que na altura era ainda ilegal naquele Estado.

[...] Será que podemos esperar algum tipo de acordo geral quanto ao que é explícito e implícito nos textos - uma decisão que pode ter consequências muito sérias? O processo de “estruturação temática” - identificação de temas - parece estar envolvido em mistério. Na era da indeterminação, pode ser mais fácil afirmar que uma obra não é acerca de uma tema em particular, sobretudo se se tratar de uma escolha absurda. Nili Diengott usou uma vez “A Station of the Metro”, de Ezra Pound, como exemplo de um poema sobre o qual não se podia dizer que era acerca do preceito de que devemos beber leite com frequência. Do mesmo modo, Erwin Panofsky observou que o tecto da Capela Sistina pode ser mais bem compreendido se reconhecermos que Michelangelo representa a queda e não um “déjeuner sur l’herbe” (Diengott 1988, 95-107; Kaemmerling 1991, 188). Existirão algumas regras básicas de plausibilidade para a identificação de temas na prática contemporânea?

1 comentários:

Teofaga disse...

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