DESCENTRALIZAÇÃO DO SUJEITO (1)
Termo de aplicação universal nas ciências humanas e sociais, mas com um significado particular nas teorias pós-estruturalistas da literatura, onde serve para traduzir a distância que separa o sujeito do texto. A conferência que Jacques Derrida pronunciou em 1966, na Johns Hopkins University, “La structure, le sign et le jeu dans le discours des sciences humaines”, pode funcionar como ponto histórico de referência na discussão do conceito. De notar que essa conferência marca não só o primeiro momento do pós-estruturalismo nos Estados Unidos como se trata do primeiro texto de crítica ao estruturalismo literário e cultural, que claramente aponta um novo caminho e que, por pretender ultrapassar o estruturalismo e por não se ter encontrado melhor termo até à data, se convencionou chamar pós-estruturalismo. A esse ensaio juntaríamos um outro: “Force et signification”, ambos os textos incluídos na colectânea: L’Écriture et la différence (1967). Noutro livro fundamental aparecido no mesmo ano, De la grammatologie, Derrida continua a sua crítica ao estruturalismo observando que, no pensamento ocidental e particularmente no pensamento francês, o discurso dominante continuava a ser o estruturalismo, permanecendo preso da sua estratificação dentro da metafísica, caracterizada pelo logocentrismo. A figura tutelar da estrutura centralizada e o triunfo do conceito de centro ajudaram a fazer desta ideia um lugar comum, porque jamais se aceita que uma estrutura não possua um centro. No pensamento de Derrida, esta ideia do centro representa uma contradição esgotada: para concebermos um centro que constitua um ponto estável de uma estrutura, o centro que ser ao mesmo tempo parte dessa estrutura e estar fora dela. Qualquer que seja a forma que esse centro tomou na cultura ocidental o resultado foi sempre o de uma profunda contradição.
ALTERIDADE; DESCONSTRUÇÃO; DETERMINAÇÃO / INDETERMINAÇÃO; JOGO (1); PÓS-ESTRUTURALISMO; SENTIDO; SUJEITO
Bib.: Earl G. Ingersoll: "The Decentering of Tragic Narrative in George Orwell's Nineteen Eighty Four", Studies in the Humanities, 16, 3 (1989);Jacques Derrida: L'Écriture et la différance (1967); Kronfeld, Chana: On the Margins of Modernism: Decentering Literary Dynamics (1996); Linda Frost: "The Decentered Subject of Feminism": Postfeminism and Thelma and Louise" in Michael Bernard-Donals e Richard R. Glejzer (eds.): Rhetoric in na Antifoudantional World: Language, Culture, and Pedagogy (1998); Paul B. Dixon: " 'Decentering' a Discipline: Recent Trends in Latin American Literary Studies", Latin American Research Review, 31, 3 (1996); Perry Meisel: "Decentering Heart of Darkness", Modern Language Studies, 8, 3 (1978).
DESCENTRALIZAÇÃO DO SUJEITO (2)
Uma aplicação pós-moderna da ideia de descentralização do sujeito é o conceito e a prática do hipertexto ou texto electrónico: um texto não é mais um alinhamento linear/horizontal/hierárquico de palavras — agora, um texto é um espaço aberto a outros textos entrelaçados e interligados, que podemos navegar, des-construir, re-construir ou abandonar de várias formas. O tempo e o espaço de vida de um texto são marcados hoje pela instabilidade. O sujeito inscrito num hipertexto não mais funciona como o seu centro estável e referenciável, como acontece num texto impresso tradicionalmente. A virtualidade de um texto é então sinónimo do processo de descentralização do sujeito desse texto com o produto criado. O facto desse texto poder ser manipulado electronicamente por qualquer outro sujeito (leitor, autor ou ambos ou mesmo nenhum) conduz à possibilidade (não virtual) de simples destruição da marca de subjectividade original — o leitor de um dado hipertexto pode superar a marca de subjectividade nele anteriormente inscrita e colocar a sua própria marca, e assim indefinidamente. Este fenómeno acentua, naturalmente, a ideia de uma distância irreversível do sujeito com o texto.
HIPERTEXTO; PÓS-MODERNISMO; PÓS-ESTRUTURALISMO; SUJEITO
http://tempest.english.purdue.edu/NA/na.5.subjectivity.html
DESCENTRALIZAÇÃO DO SUJEITO (3)
Na teoria cultural de Habermas, o conhecimento é determinado pelas condições socio-históricas que o enformam. O indivíduo é parte de uma vivência universal e pertence a uma tradição cultural e linguística na qual está obrigado a participar. Esta vivência universal possui três dimensões: 1) o mundo objectivo dos factos que existem independentemente do homem e que constituem a referência fundamental para a determinação da verdade; 2) o mundo social das relações intersubjectivas; 3) o mundo subjectivo das experiências privadas. Para Habermas, a descentralização do sujeito conquista-se quando o indivíduo consegue diferenciar-se destes três modos de existência. A descentralização permite então compreender a diferença entre certos valores como a justiça, a verdade e o gosto, em vista das suas concretizações sociais e culturais. Comentando esta tese, Benjamin Endres, em "Habermas and Critical Thinking," (1997) (http://www.ed.uiuc.edu/PES/96_docs/endres.html), resume assim as limitações da teoria de Habermas: "Yet there seems to be a tension in Habermas's theory surrounding the concept of decentering. On the one hand, Habermas recognizes people as embedded in their personal and social history. On the other, his theory seems to ask that rational and moral people give up these prior commitments and consider them hypothetically when arguing with others about the acceptance of a norm. Yet how far does Habermas think people can go in giving up personal and cultural identities in favor of "the force of reason?" In some places, he is adamant about the historically and culturally defined nature of human action. Habermas sees himself clarifying everyday intuitions that are themselves socialized and historically grounded. (...) Though he does not sacrifice the primacy of social-historical contexts in determining our knowledge, he places especially rigorous expectations on individuals within particular contexts to achieve a disinterested perspective. Furthermore, he proposes informal logic as a model for human reasoning, which combines the consideration of substantive content with the requirements of logical validity. By adopting this formal methodology, he believes that participants in argumentation are able to assume the perspectives of everyone else affected by the practice. This universal exchange of roles requires that individuals step outside of their own perspectives to consider the needs of others while attuning themselves to the requirements of logical reasoning.". Para a continuação deste debate, ver o artigo de Mark Weinstein "Decentering and Reasoning", em resposta a Endres (http://www.ed.uiuc.edu/PES/96_docs/weinstein.html).
DESTERRITORIALIZAÇÃO; TEORIA CRÍTICA
Bib.: Jürgen Habermas, The Theory of Communicative Action, vol. 2: Lifeworld and System: A Critique of Functionalist Reason (1987)
Carlos Ceia
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