Na sua origem grega (elegeia), radicará quer a filiação formal de um género autónomo, nomeadamente face à lírica, quer a filiação temática orientada para o pathos, com os consequentes temas do lamento, da dor e da melancolia. Todavia, registos há de subgéneros distintos centrados tanto na moral (Sólon, Teógnis de Mégara) como no erotismo (Mimnerno). Será aliás por via deste último assimilada pela poesia romana (Catulo). Por seu turno, a dimensão bucólica existente na elegia grega poderá ainda estar na origem da vertente pastoral que ecoará, mais tarde, em Itália (Tasso , Ariosto). Devido à influência italiana, essa vertente surgirá em Espanha (Garcilaso de la Vega, Lope de Vega) e em França (Ronsard, Marot); através desta última abre-se caminho para a sua introdução em Inglaterra (Spenser). Orientada para o pathos , a elegia revelara-se, contudo, quer nos primórdios da literatura inglesa em Bewolf (o lamento sobre a morte do herói), quer em Chaucer (Book of the Duchess), vindo a conhecer, ao longo dos tempos, cultores de vulto (entre outros, e numa dimensão anglo-saxónica, Donne, Milton, Pope, Wordsworth, Tennyson, Hopkins, Swinburne, Hardy, Yeats, Auden, Thomas, Heaney). Nos Estados Unidos da América, elegia revela-se ainda em plena época colonial (Ane Bradstreet, Edward Taylor), tendo, todavia, atingido o seu momento mais alto, no século XIX, com Walt Whitman (“When Lilacs Last in the Dooryard Bloom’d”, elegia dedicada a Lincoln). Sob influência italiana, a elegia portuguesa (Sá de Miranda, António Ferreira, Camões, Diogo Bernardes) expandir-se-á para outros temas (o amor, o belo, a religiosidade, o patriotismo). Num plano mais geral, essa expansão para outros temas persistirá no século XX, nomeadamente ao abraçar o plano político (Owen, nas elegia sobre a I Guerra Mundial, Celan, nas elegia sobre as vítimas do Holocausto, ou Heaney, nas elegia sobre os mortos no conflito irlandês). Por outro lado, a elegia revelará ainda uma estratégia de auto-subversão do género (Thomas, “A Refusal to Mourn the Death, by Fire, of a Child in London”) e, sob a influência da psicanálise freudiana, de desmontagem do seu próprio objecto (Plath, “Daddy”). Por seu turno, a elegia de Lowell aos mortos da Guerra Civil americana (“For the Union Dead”), expõe um olhar onde a memória histórica e a individual (freudiana) se tornam indissociáveis. Ainda em Portugal, Eugénio de Andrade contaminará o pathos, na elegia ao pai, com a sedução pela imagem de alguém que apenas através dela se construiu e conheceu.
ODE
Bib.: A. F. Potts: The Elegiac Mode (1967); C. M. Bowra: Early Greek Elegies (1938); ELEGIA Camacho Guizado: La elegía funeral en la poesía española (1969); F. Beissner: Geschitdte der deutschen Elegie (1941; 2ªed., 1961); H. Potez: La’ Élégie en France avant le romantisme (1970); J. W. Draper: The Funeral Elegy and the Rise of Romanticism (1929); Mary Lloyd (ed.): Elegies, Ancient and Modern (1903).
Mário Avelar
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